Lácteos são fonte alimentar de alguns tipos de vitamina K

Todos nós sabemos que as vitaminas são importantes. Algumas delas cobiçam o palco da conscientização pública e raramente abandonam os holofotes. Se não forem consumidas em quantidades suficientes, podem causar sérias consequências. Outras vitaminas, como a K, estão perdidas no embalo do complexo ABCD e lutam para serem ouvidas. Sua mensagem, no entanto, é igualmente relevante para a saúde dos seres humanos. O paradoxo é que a deficiência de vitaminas continua sendo, para muitas pessoas, uma questão significativa de saúde e nutrição, mesmo com a abundância de alimentos. Além disso, os cientistas continuam descobrindo novos papéis biológicos destes compostos e novas fontes de alimentos que contêm diferentes formas moleculares de vitaminas conhecidas, que em conjunto corrigem os níveis recomendados de ingestão diária.

Um estudo recente publicado no Current Developments in Nutrition e realizado por Fu e seus colegas relatou que os produtos lácteos integrais contêm múltiplas formas de um tipo pouco descrito de vitamina K, a K2, e outras pesquisas revelam papéis inesperados deste subtipo de vitamina na manutenção da saúde cardiovascular e do osso.

O que é vitamina?

Cientistas descobriram a maioria das vitaminas há muitas décadas, quando perceberam que algumas dietas específicas consumidas, rotineiramente, por seres humanos e animais causavam doenças graves. Eles constataram que os componentes críticos para uma boa saúde não estavam nessas dietas. Então, identificaram esses componentes alimentares (contendo vitaminas) e os adicionaram às dietas deficientes, prevenindo, assim, algumas doenças.

Posteriormente, a forma molecular de cada vitamina foi caracterizada, e chegou-se à definição de que: as vitaminas são pequenas moléculas orgânicas que não podem ser sintetizadas pelo corpo e, portanto, precisam ser obtidas de fontes externas, como alimentos, ou no caso da vitamina D pela luz solar. Normalmente, quantidades muito pequenas de vitaminas são essenciais para gerar reações bioquímicas-chaves que sustentam o metabolismo e a função celular normal. O Comitê Nobel reconheceu a imensa importância das vitaminas para a saúde humana, concedendo ao assunto um total de nove prêmios, entre 1929 e 1964.

Funções e fontes de vitamina K

O cientista dinamarquês Henrick Dam descobriu a vitamina K há quase 90 anos. Ele notou que dietas com baixo teor de gordura em galinhas levavam a tendências hemorrágicas que poderiam ser evitadas quando níveis normais de gordura (contendo esta vitamina) fossem restaurados na dieta. Desde então, a vitamina K foi reconhecida pelos nutricionistas como um componente dietético solúvel em gordura, essencial para a coagulação sanguínea normal em seres humanos.
Mais tarde, Dam descobriu que a vitamina K necessária para a coagulação do sangue existia em duas formas moleculares relacionadas, filoquinona (vitamina K1) e menaquinona (vitamina K2). A K1 é predominante em vegetais verdes folhosos e tem sido bem caracterizada por seu papel essencial na coagulação sanguínea. Já a K2 está presente na carne, ovos e produtos lácteos. Mas, como Fu e seus colegas observaram, historicamente ela foi pouco estudada em termos de suas funções, múltiplas estruturas e abundância em diferentes alimentos. Versões moleculares adicionais da vitamina K2 também são produzidas por fermentação microbiana, e estas são encontradas em alguns queijos e natt?, uma iguaria japonesa feita com soja fermentada.

Várias agências nacionais de saúde e nutrição em todo o mundo produziram recomendações alimentares para ingestão adequada de vitamina K. O termo “ingestão adequada” é usado porque não há informações suficientes disponíveis sobre a dose diária recomendada para humanos. Mas Fu e seus colegas indicaram que as menaquinonas – diferentes formas moleculares de vitamina K2 – não foram sistematicamente analisadas em alimentos norte-americanos, nem incluídas nas ingestões (totais) de vitamina K estimadas pela população dos EUA.

Formas múltiplas de vitamina K estão presentes nos produtos lácteos

Os pesquisadores usaram uma técnica extremamente poderosa e sensível – a espectrometria de massa – para caracterizar as várias formas de menaquinonas e filoquinonas em uma variedade de produtos lácteos dos EUA. Eles demonstraram que três formas moleculares de menaquinona (versões de diferentes tamanhos de vitamina K2) estavam presentes em “quantidades significativas” de produtos lácteos integrais. Notadamente, os investigadores mostraram que os produtos lácteos com baixo teor de gordura, ou sem gordura, continham apenas 5-22% do teor total de vitamina K dos produtos lácteos integrais. Os estudos concluíram que os conteúdos totais dessa vitamina em vários produtos lácteos são relativamente elevados e proporcionais ao teor de gordura do produto. Também foi cogitado o fato de que as múltiplas formas de menaquinonas encontradas no leite com gordura total podem ser indiretamente derivadas da fermentação microbiana que ocorre no sistema digestivo especializado das vacas.

Implicações

O estudo de Fu e seus colegas tem consequências de longo alcance. Em primeiro lugar, ele permitirá que as agências nacionais de saúde e nutrição levem em conta outra fonte de alimentos ricos em vitamina K e, assim, sejam mais precisas na recomendação total de “ingestão adequada”. Em segundo lugar, a vitamina K2 não é apenas necessária para a coagulação sanguínea normal, mas recentemente também esteve relacionada à saúde óssea e cardiovascular. Esses estudos demonstraram que a vitamina K2 está associada à inibição da rigidez e da calcificação arterial, e à manutenção do cálcio no osso. O que é desconhecido é o nível alimentar da vitamina que otimiza essas funções biológicas. Em terceiro lugar, esta pesquisa somada a uma revisão pertinente, escrita por Katarzyna Maresz da International Science and Health Foundation, na Cracóvia, destaca as dificuldades com as dietas populares modernas. Eles notaram a quase ausência de vitamina K2 nos alimentos calóricos e sem valor nutricional, ao estilo ocidental “junk food”, e sua redução em alimentos lácteos sem gordura. Assim, algumas pessoas podem não estar adquirindo vitamina K2 suficiente de suas dietas.

A suplementação de cálcio é amplamente utilizada por pessoas idosas para auxiliar a prevenção da osteoporose e o associado risco aumentado de fraturas ósseas. No entanto, uma série de estudos que foram resumidos por Maresz concluem que existe uma associação entre o uso de suplementos de cálcio e o aumento dos depósitos do mineral nos vasos sanguíneos, o que pode elevar o risco de doença cardíaca. A deficiência de vitamina K2 pode dificultar a remoção do excesso de cálcio a partir de tecidos moles e vasos sanguíneos, e sua deposição no osso. Assim, uma ingestão adequada de vitamina K2 pode ser particularmente importante para a saúde cardiovascular de pessoas que tomam suplementos de cálcio.
Ainda há pesquisas adicionais necessárias para entender completamente os papéis da vitamina K na saúde humana. Os impactos desta vitamina também devem ser avaliados pelas agências de saúde tendo como experiência as tendências alimentares atuais.

Por Ross Tellam em SPLASH! milk science update: edição de janeiro de 2018

Fonte:

  1.  Maresz K. Proper Calcium Use: Vitamin K2 as a Promoter of Bone and Cardiovascular Health. Integr Med (Encinitas). 2015;14(1):34-9.
  2.  Karpi?ski M, Popko J, Maresz K, Badmaev V, Stohs SJ. Roles of Vitamins D and K, Nutrition, and Lifestyle in Low-Energy Bone Fractures in Children and Young Adults. J Am Coll Nutr. 2017;36(5):399-412.
  3.  Fu X, Harshman S, Shen X, Haytowitz D, Karl J. Multiple Vitamin K Forms Exist in Dairy Foods. Curr Develop Nutr. 2017;1:e000638.
  4.  Carpenter K. The Nobel Prize for the Discovery of Vitamins 2014 [Available from: https://www.nobelprize.org/nobel_prizes/themes/medicine/carpenter/].
  5.  Zetterström R. H. C. P. Dam (1895-1976) and E. A. Doisy (1893-1986): The Discovery of Antihaemorrhagic Vitamin and Its Impact on Neonatal Health. Acta Paediatr. 2006;95(6):642-4.

FONTE: Beba Mais Leite

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