A recomendação sempre foi consumir lácteos com baixo teor de gordura, inclusive é o preconizado pelo “MyPlate”, guia nutricional do governo dos Estados Unidos. Entretanto, de acordo com as pesquisas recentes, os profissionais de saúde não precisam aderir estritamente a essas diretrizes.
Durante os últimos 50 anos, a ingestão de certos ácidos graxos saturados e trans foi relacionada ao aumento dos riscos de doenças cardiovasculares, levando a generalização de que essas gorduras são prejudiciais à saúde. Por exemplo, o Guia Dietético de 2010 para americanos recomendou consumir menos de 10% das calorias de gorduras saturadas e manter a ingestão de gorduras trans o mais baixo possível, limitando alimentos que contenham fontes sintéticas de gorduras trans (particularmente óleos hidrogenados) e outras gorduras sólidas.
Entretanto, pesquisas recentes indicaram que a gordura do alimentos lácteos não é prejudicial à saúde do coração como se pensava. De fato, ela pode até ser benéfica. “A evidência é bastante forte”, disse o presidente do Dairy Research Institute e vice-presidente executivo do National Dairy Council, Greg Miller. De acordo com o Comitê Conselheiro de Diretrizes Alimentares, Miller disse que o consumo de leite e produtos lácteos – independente do nível de gordura – está associado com menor pressão sanguínea e um menor risco de doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2.
“As gorduras nos alimentos lácteos integrais são altamente complexas e podem conter ingredientes benéficos”, disse o professor assistente no departamento de ciência animal da Universidade do Estado de Michigan, Adam Lock. Mais de 400 tipos diferentes de ácidos graxos foram identificados na gordura do leite. Os ácidos graxos no leite integral são aproximadamente 62% saturados, 30% monoinsaturados, 4% poli-insaturados e 4% outros tipos, como os ácidos graxos trans de ocorrência natural, que incluem o ácido linoleico conjugado (CLA).
Essas gorduras têm diferentes efeitos fisiológicos. O comitê de nutrição da Associação Americana do Coração reconhece a diversidade dos efeitos biológicos dos ácidos graxos individuais e a necessidade de avaliar ácidos graxos específicos relacionados ao risco de doenças coronarianas cardíacas.
O que é crucial é que a gordura do leite não é consumida isoladamente; os alimentos lácteos também contêm proteína, cálcio, e outros componentes que podem modular os efeitos da gordura na saúde. “É importante reconhecer que as pessoas que consomem gorduras lácteas, não consomem somente gordura saturada”, disse Lock.
Com base nessas descobertas, a ingestão de gordura saturada não é sinônimo de doença cardíaca. A maioria das gorduras saturadas do leite não tem efeito no colesterol circulante e não tem implicações negativas para a saúde humana, disse Lock. A gordura saturada no leite pode aumentar o colesterol total e o colesterol LDL, mas também aumentar o colesterol HDL, tendo, dessa forma, um efeito neutro.
Novas pesquisas ainda indicam que a gordura saturada nos lácteos pode ser benéfica. Um estudo recente concluiu que uma maior ingestão de gordura lácteas saturadas estava associada com menor risco de doenças cardiovasculares.
Nos alimentos, existem dois principais tipos de ácidos graxos trans: os ácidos graxos trans industriais, formados por hidrogenação parcial de óleos vegetais, e os ácidos graxos trans de ocorrência natural, presente no leite e na carne, que são criados pela biohidrogenação em animais ruminantes.
Os ácidos graxos trans industriais foram associados com maior risco de doenças cardiovasculares, enquanto os de ocorrência natural tiveram uma associação negativa ou nenhuma associação com essas doenças.
Lock acredita que as evidências mais convincentes mostrando que os alimentos lácteos são benéficos para a saúde incluem duas pesquisas de revisão sugerindo que aqueles que consomem grandes quantidades de leite têm risco de doenças cardíacas diminuído em relação àqueles que consomem pouco. De fato, pode haver um pequeno, mas valioso, decréscimo no risco de doenças cardíacas com o maior consumo. “Os consumidores que bebem bastante leite provavelmente têm uma vantagem geral de sobrevivência”.
A reportagem é de Karen Giles-Smith, para o www.todaysdietitian.com, traduzida, resumida e adaptada pela Equipe MilkPoint.
Fonte: Milk Point