Autor: MICHAEL MOSLEY
Quando eu era criança, quase todo mundo bebia leite integral com alto teor de gordura. Então, na década de 1970, fomos avisados de que as gorduras saturadas encontradas nos laticínios bloqueariam nossas artérias e nos engordariam. Preocupados com a saúde, muitos mudaram para o leite desnatado ou desistiram completamente do leite de vaca. Eu inclusive.
Como resultado, os britânicos estão bebendo um terço a menos de leite do que há 30 anos e as taxas de consumo continuam caindo. Uma pesquisa recente descobriu que um terço das pessoas com menos de 35 anos está considerando reduzir a quantidade de laticínios na dieta, citando razões de saúde ou morais. Em vez disso, optam por alternativas à base de plantas, como “leite” de soja, amêndoa ou coco.
Minha filha de 18 anos, Kate, é uma delas. O leite de vaca a deixa desconfortável e inchada, então, em uma tentativa de reduzir os sintomas, ela mudou para o “leite” de amêndoa.
O problema de Kate é surpreendentemente comum. Cerca de 60% da população mundial não tem a enzima lactase que nos ajuda a digerir os açúcares do leite de vaca, chamado lactose. Para essas pessoas, beber leite pode levar a sintomas desagradáveis, como irritação do estômago, gases e inchaço. No entanto, a grande maioria tem sintomas menores e mesmo aqueles com intolerância à lactose grave podem tolerar um pequeno respingo de leite no chá.
Mas para algumas pessoas, até mesmo o chá pode causar cólicas estomacais, para não mencionar as flatulências.
Então eu entendo porque o mercado de leite alternativo está crescendo. Mas também tenho preocupações.
Se você está pensando em mudar seu hábito de ingerir laticínios, por razões de saúde, então há algumas coisas que precisa saber, porque a menos que você realmente entenda o que está fazendo, mudar trocar o leite de vaca por ‘leite’ de vegetais pode ser ruim para os ossos, coração e cérebro. E, ironicamente, optar por versões mais magras pode até deixá-lo mais gordo. Depois de pesar as evidências, mudei de novo para o leite integral e depois de ler isso, você pode querer fazer o mesmo.
Leite de amêndoa não vai proteger seu cérebro
O leite de vaca contém muitos nutrientes essenciais que os “leites” de nozes ou aveia não contêm, por exemplo: altos níveis de proteína e vitamina B12.
Todo mundo sabe que os laticínios são uma excelente fonte natural de cálcio, essencial para ossos saudáveis, mas muitos não estão cientes de outro nutriente igualmente importante, chamado iodo. Um pequeno copo de leite de vaca (integral, semidesnatado ou desnatado) contém quase 70% da nossa ingestão diária recomendada de iodo, elemento essencial para o desenvolvimento do cérebro em bebês e regulação do humor e do metabolismo em adultos.
Estudos mostraram que o “leite” derivado de plantas contém apenas dois por cento da quantidade encontrada no leite de vaca. Você também pode obter a quantidade que falta de iodo ao comer algas marinhas e é abundante em mariscos e outros peixes brancos. Mas o leite de vaca continua sendo, de longe, a principal fonte desse elemento na dieta média britânica.
Dado o fato de que somos um dos países com maior deficiência de iodo do mundo, muitos de nós precisamos de todos os refúgios que conseguirmos.
Infelizmente, as mulheres jovens tendem a ter os níveis mais baixos de iodo, e esse é o mesmo grupo que provavelmente evita os alimentos de origem animal em favor de alternativas baseadas em plantas. Um estudo de 2011 feito com adolescentes britânicas, descobriu que quase 70% delas tinham níveis de iodo bem abaixo do mínimo aceitável. Esse elemento é necessário para fazer a tiroxina, um hormônio liberado pela tireoide que controla a eficácia do seu corpo na conversão de alimentos em energia, também conhecida como taxa metabólica.
Níveis persistentemente baixos de iodo levam ao esgotamento desse hormônio e à desaceleração das funções corporais vitais, incluindo a queima de energia. É o que é conhecido como estado de “hipotireoidismo”, que leva ao ganho de peso e alterações de humor. Mais preocupante ainda, é a deficiência de iodo em uma mulher grávida pode afetar o cérebro de fetos. Um estudo de 20 anos com 14.000 mulheres grávidas e puérperas descobriu que se uma gestante fosse leve a moderadamente deficiente em iodo, isso teria um efeito significativo no QI e capacidade de leitura do seu filho.
Outro estudo, que analisou quase 50.000 bebês, descobriu que a ingestão de iodo pela mulher grávida e pelo recém-nascido tem um impacto significativo no desenvolvimento neurológico da criança aos três anos de idade. Baixos níveis do elemento foram associados ao atraso no desenvolvimento da linguagem, problemas comportamentais e habilidades motoras reduzidas. Isso acontece porque a falta de hormônios tireoidianos interrompe drasticamente o desenvolvimento cerebral do feto.
A gordura extra pode reduzir a fome
Eu troquei o leite integral para o desnatado na década de 1980, em meio a temores de que a gordura saturada poderia afetar minha saúde do coração e meu peso. O problema foi que eu encontrei leite desnatado (que tem cerca de 0,3% de gordura) tão aguado que eu não conseguia engolir, então escolhi o semidesnatado (1,6% de gordura).
Voltei a consumir o leite integral no ano passado, depois de ler uma série de estudos recentes que mostraram que os tipos de gordura saturada que são encontradas no leite e laticínios parecem ser mais protetoras do que prejudiciais.
Uma das razões pelas quais nos disseram para optar por leites com baixo teor de gordura, como o desnatado, é porque o consumo de gorduras saturadas aumenta o nível de LDL no sangue, frequentemente considerado como “colesterol ruim”. Altos níveis de LDL estão associados a uma maior chance de doença cardíaca.
Também se supunha que, como o leite desnatado tem menos de dois terços da quantidade de calorias, por copo, quando comparado ao leite integral, então a primeira opção seria menos engordativa. Mas agora sabemos que é mais complicado do que isso.
A gordura saturada no leite realmente aumenta o LDL, mas também aumenta os níveis de “bom colesterol”, conhecidos como HDL, e isso parece equilibrar o dano causado pelo LDL mais alto. O HDL coleta o excesso de colesterol no sangue e o leva de volta ao fígado, onde é digerido e removido do corpo.
Para grande surpresa de muitas pessoas (inclusive eu), tem havido um grande número de estudos recentes demonstrando que os bebedores de leite integral não apenas tendem a ser mais magros do que aqueles que consomem outras variedades com baixo teor de gordura, mas também apresentam menor risco de síndrome metabólica, de elevação da pressão sanguínea, aumento do nível de açúcar e de gorduras no sangue (o que pode aumentar o risco de doença cardíaca).
Um estudo recente com 1.600 homens suecos saudáveis de meia idade descobriu que aqueles que comiam manteiga e bebiam leite integral tinham metade da probabilidade de se tornarem obesos, ao longo dos 11 anos do que aqueles que consumiam leite desnatado e uma dieta com baixo teor de gordura.
E um estudo com 18.438 mulheres americanas descobriu que as pessoas que consomem a maior quantidade de leite integral eram as menos propensas a ganhar muito peso ao longo de 11 anos.
A explicação provável, de acordo com estudos, é que o consumo de produtos lácteos com alto teor de gordura dá uma sensação de saciedade por mais tempo, reduzindo o consumo de lanches açucarados.
Então, por que não apenas dar um passo até o semidesnatado? Bem, você certamente poderia, mas tem níveis mais baixos de alguns ácidos graxos essenciais, como o ômega-3, que está ligado à desaceleração do declínio cognitivo, à redução da ansiedade e da depressão.
O leite integral pode ter três vezes o teor de gordura, mas também contém 90 vezes a quantidade de gorduras ômega-3 encontradas no leite desnatado, e cerca de duas vezes mais do que o semidesnatado, sem mencionar que o processo de remoção de gordura diminui uma série de vitaminas, como vitamina A e D no produto acabado. Algumas dessas vitaminas são adicionadas novamente depois, mas não todas.
Eu gosto do sabor do leite integral e aqueles poucos gramas extras de gordura reduzem minha fome.
Acredito que meu cérebro, ossos, coração – e papilas gustativas – me agradecerão por isso.
Fonte: Beba Mais Leite